
Bismillah,
Suhaib b. Sinan
Dr. Abdulrahman Ráafat Bacha
Tradução: Prof. Samir El Hayek
“Fizeste uma transação proveitosa, ó Suhaib, e conseguiste a melhor parte da barganha.” Mohammad, o Mensageiro de Allah!
Suhaib, o bizantino – será que há um muçulmano vivo que nunca ouviu falar dele? Sua vida é tão cheia de eventos os quais constituem material para histórias, por todo o mundo muçulmano, tanto é que todos nós conhecemos pelo menos um pouco sobre ele.
O que muitos de nós não sabem acerca de Suhaib é que ele não era bizantino, ou romano, mas árabe, com o pai sendo da tribo de Numair e a mãe, da tribo de Tamim. Como ele se tornou conhecido por “bizantino” é a própria história em si. A história está em muitos textos históricos clássicos, mas quem, entre nós, ouviu-a em detalhes?
Cerca de duas décadas antes do tempo em que o abençoado Profeta (S) primeiramente recebeu o chamado para a profecia, um homem chamado Sinan b. Málik, da tribo de Numair, era governador de uma cidade chamada Ubulla. Essa velha cidade fazia parte do império sassânida, e faz, nos nossos dias, parte da cidade de Al Basra.
Esse governador, Sinan, tinha um grande número de filhos, dos quais o seu favorito era o Suhaib. Com suas faces rosadas, seus cabelos cor de cobre, e ilimitada energia, Suhaib era precocemente inteligente, embora tivesse apenas cinco anos de idade. Tinha um temperamente afável e era bem humorado, sabendo como arrancar risadas do seu pai, Sinan, mesmo quando os deveres e afazeres do governo pareciam aborrecê-lo.
O verão, na cidade, era uma época insalubre. O calor e a umidade tornavam-se tão opressivos, que todos os que podiam iam procurar o clima mais agradável do campo, nos meses de verão. A esposa de Sinan fez as malas e se pôs a caminho do vilarejo de Çaniy, com seus criados, suas criadas e, certamente, a criança Suhaib. Não estavam ali havia muito, quando o vilarejo foi invadido por uma divisão do exército bizantino. Eles assassinaram os guardas do vilarejo e carregaram os bens das pessoas. Também raptaram um bom números de pessoas e, entre elas, levaram o jovem Suhaib.
O jovem foi vendido no mercado de escravos da capital bizantina, e depois passou de uma pessoa para outra. O ser passado dos serviços de um amo, para os serviços doutro, era a sina de milhares de escravos que enchiam os palácios dos membros abastados da sociedade bizantina.
A experiência de Suhaib como escravo capacitou-o a ver além da brilhante fachada que era chamada de civilização, naquela sociedade. Os escravos sabiam de todos os segredos dos seus senhores, e viam tudo o que se passava por trás das altas muralhas dos palácios. Suhaib nada sentia além de ódio e desprezo pelos bizantinos, e sabe-se que teria dito que nada, a não ser um dilúvio, que afogasse a todos, poderia purificar tal sociedade.
Conforme passavam os anos, Suhaib começava a perder o seu domínio da língua-mãe, o árabe. Porém, embora passasse muitos anos nas terras dos bizantinos, ele sabia que era árabe e, adstrito à sua natureza beduína, ansiava pela liberdade que teria na Arábia. Todos os seus sonhos focalizavam uma escapada do cativeiro e o retorno ao seu povo.
Num dia, ele ouviu sorrateiramente a conversa entre o seu amo e um padre. O padre estava a dizer que muitos eruditos da religião sabiam que em breve um profeta iria aparecer em Makka, na Arábia. Esse profeta iria confirmar a mensagem de Jesus, filho de Maria, e tirar o povo da escuridão da ignorância, e levá-lo para a luz da verdade. O ouvir aquilo, tornou Suhaib ainda mais ansioso quanto ao libertar-se e escapar dos seus captores.
Ele aproveitou a primeira oportunidade disponível, e fugiu do império bizantino. Decidiu dirigir-se para Makka por duas razões: primeiro porque era o ponto-de-encontro dos viajantes de toda Arábia e, segundo, porque era o lugar onde o padre predisse que o esperado profeta iria aparecer.
Em Makka, Suhaib foi empregado por um homem de nome Abdullah b. Jadan, que lhe deu trabalho nos seus negócios de mercador. Suhaib foi um sucesso nos negócios, e começou a ganhar um respeitável provento. O povo de Makka veio a conhecê-lo e o apelidou de Al Rumi (o romano) por causa da sua compleição clara, dos seus cabelos ruivos, e do seu forte sotaque, ao falar árabe. Mas eis que o Suhaib sempre se lembrava da predição, e estranhava por que ela demorava tanto a acontecer.
A verdade foi que Suhaib não teve que esperar muito tempo. Quando voltava das suas muitas viagens, como mercador, costumava vagar pelo mercado e ouvir, de outros jovens, toda a ocorrência que acontecera durante a sua ausência. Num dia, ao voltar, ouviu as pessoas a dizerem que um tal de Mohammad b. Abdullah (S) começava a pregar aos indivíduos, conclamndo-os a cultuarem um Allah Único, a serem justos nos seus tratos financeiros, e bondosos e caritativos nas suas interações sociais. Também requeria deles que se reprimissem da indecência e do pecado. Excitado, Suhaib perguntou a seus amigos se esse tal de Mohammad (S) não era aquele a quem todos chamavam de Al Amin (o confiável)? Quando eles assentiram, Suhaib lhes perguntou aonde poderia encontrar aquele homem. Eles disseram para o Suhaib que o Profeta (S) encontrava-se com as pessoas na casa de Al Arqam b. al Arqan, perto do monte de Safa, mas tentaram impedi-lo a que fosse ter com ele.
Ao verem os jovens que Suhaib estava determinado a ir ao encontro do Profeta (S), deram-lhe o seguinte conselho:
“Toma cuidado para que ninguém te veja, ou saiba aonde tu estás indo. Se qualquer um dos coraixitas te vir, far-te-ão coisas terríveis, uma vez que não tens uma tribo que te proteja. Eles agem cruelmente quando sabem que não há ninguém para vingar a morte da pessoa.
Cuidadosamente, Suhaib se dirigiu para a casa do Al Arqan. Após certificar-se de que ninguém o havia visto ou seguido, ele foi até à porta, onde encontrou um conhecido, o Ammar b. Uasir. Ele o havia encontrado antes, mas hesitou um momento antes de perguntar:
“Que estás fazendo aqui, ó Ammar?”
“E tu, que estás fazendo aqui?” foi a resposta.
“Eu quero encontrar-me com alguém, e ouvir o que ele tem a dizer”, disse Suhaib.
“E eu também”, disse Ammar.
“Entremos juntos, e oremos para que Allah abençoe a nossa visita”, disse Suhaib.
Aquele foi um dia que irá ser lembrado pelos muçulmanos por todo o porvir, dia em que Suhaib b. Sinan e Ammar b. Uasir se apresentaram ao Profeta (S) e ouviram a sua pregação. De bom grado aceitaram a fé e declararam que não havia deus a não ser Allah, e que Mohammad era o Seu servo e Mensageiro. Eles permaneceram lá até que a noite caísse, ouvindo os ensinamentos dele e aprendendo algo sobre sua religião. Quando finalmente eles partiram para suas casas, escondidos sob o manto da noite, cada um deles levou em seu coração fé suficiente para iluminar o mundo inteiro.
Por causa da sua conversão, Suhaib sofreu perseguições por parte dos coraixitas. Juntamente com Ammar, Bilal, Summaiya, Khabbab e dúzias de outros crentes, ele foi caçado e torturado por causa das suas crenças. Uma montanha teria de ser triturada caso fose ser feita a comparação do peso do seu sofrimento, mas o Suhaib permanecia firme e tranquilo, pois sabia que o caminho para o Paraíso não era fácil.
Quando o Profeta (S) anunciou aos seus seguidores sua decisão de emigrar para Madina, Suhaib planejou deixar Makka na companhia do Profeta (S) e de Abu Bakr, mas a tribo do coraix suspeitou que ele planejava partir. Ele contrataram espiões para que o vigiassem, dia e noite, para que não pudesse se esgueirar levando toda a riqueza que havia acumulado como mercador.
Suhaib permaneceu em Makka, esperando uma chance de escapar e encontrar-se com o Profeta (S) e seus Companheiros. Por fim, quando tinha quase perdido as esperanças de fugir dos seus eternos inimigos vigilantes, ele bolou um plano.
Ele esperou até que a noite se tornasse acremente fria. Quando já se fazia tarde, ele penetrou na escuridão da noite, pretendendo que ia fazer as necessidades fisilógicas. O espias o seguiram, até que ele voltou para casa. Ele repetiu isso muitas vezes, até que os guardas voltaram-se uns para os outros, zombeteiros, dizendo:
“Os deuses reviraram-lhe os intestinos. Ele não irá a lugar algum esta noite.” Então eles voltaram aos seu postos, dando-se ao luxo de dormirem um pouco. Tão logo Suhaib teve certeza de que eles estavam num sono profundo, esgueirou-se pela saída, e se dirigiu para Madina.
Suhaib não tinha ido longe quando os homens responsáveis pela vigilância acordaram alarmados, conscientizando-se de que ele tinha escapado. Selaram seus mais rápidos cavalos e se puseram ao encalço dele. Quando o Suhaib ouviu que eles se aproximavam, constatando que não havia lugar algum para se esconder, subiu na encosta de um morro, colocou uma flecha no seu arco, e gritou:
“Ó homens do coraix, Juro por Allah que sabeis que eu sou um dos melhores arqueiros, e que sempre acerto no alvo. Vós não me alcançareis antes que eu derrube um de vós com cada uma das minhas setas, e irei lutar até à morte com minha espada para que não me captureis!”
“Tu nunca fugirás de nós para levares toda essa riqueza para os muçulmanos”, um deles respondeu. “Quando vieste a nós, estavas sem lar e sem dinheiro. Agora que te empregamos e te ajudamos a ficar rico, desejas fugir!”
“Esse é que é o probelama?” perguntou o Suhaib. “Se eu deixar o meu dinheiro, permitireis que eu vá?”
Eles concordaram com o tratado, e ele disse onde o dinheiro estava guardado. Este estava ainda em Makka e, depois que ele lhes mostrou onde o encontrar, eles pegaram o dinheiro e soltaram o rapaz. Suhaib continuou a viagem para Madina, levando consigo o mais valioso dos tesouros: sua fé. Ele não se lamentava pelo dinheiro que passara a juventude a juntar. Toda a vez que suas passadas esmoreciam e ele sentia que não mais poderia continuar, era reanimado pela ânsia de estar com o Profeta (S), e continuava a caminhar.
Quando ele chegou a Quba, constatou que o Profeta (S) lá estava, e foi recebido calorosamente. O Profeta (S) ficou irradiante com a presença de Suhaib, e disse:
“Fizeste uma transação proveitosa, ó Abu Yahya!” O Profeta (S) repetiu isso por três vezes, e Suhaib, cheio de assombro, disse:
“Juro por Allah que ninguém passou por mim na estrada para Madina. Ninguém poderia ter-te contado o que aconteceu comigo, excepto o próprio anjo Gabriel.”
E aquilo fora a verdade. Suhaib adquirira a melhor parte do ajuste, e isso foi confirmado pela divina revelação. O anjo Gabriel contara ao Profeta Mohammad (S) o que acontecera a Suhaib, e revelara ao Profeta (S) as seguintes palavras do Alcorão, concernentes ao Suhaib:
“Entre os homens há também aquele que se sacrifica para obter a complacência de Allah, porque Allah é Compassivo para com os servos” (2:207).
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"São aqueles aos quais foi dito: Os inimigos concentraram-se contra vós; temei-os! Isso aumentou-lhes a fé e disseram: Allah nos é suficiente. Que excelente Guardião! Pela mercê e pela graça de Deus, retornaram ilesos. Seguiram o que apraz a Deus; sabei que Allah é Agraciante por excelência." (03: 173-174)
يُرِيدُونَ أَن يطفئوا نُورَ اللّهِ بِأَفْوَاهِهِمْ وَيَأْبَى اللّهُ إِلاَّ أَن يُتِمَّ نُورَهُ وَلَوْ كَرِهَ الْكَافِرُونَ
......Desejam em vão extinguir a Luz de Deus com as suas bocas; porém, Deus nada permitirá, e aperfeiçoará a Sua Luz, ainda que isso desgoste os incrédulos!
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