
O país pentacampeão mundial de futebol abriga uma comunidade de aproximadamente 2 milhões de muçulmanos. Eles estão espalhados em todo o Brasil; não existe uma cidade no território brasileiro que não possua pelo menos uma família ou indivíduo muçulmano. Mas, a maior concentração está especialmente em São Paulo e na Grande São Paulo, Brasília, Rio de Janeiro, Foz de Iguaçu e Curitiba. Grande parte é de origem e descendência árabes, procedentes do Líbano, Síria e Palestina. Somam-se a eles muitos convertidos brasileiros Em todo país existem mais de 100 mesquitas e salas de oração. Na capital paulista há cinco mesquitas, incluindo o principal templo islâmico brasileiro e o primeiro do continente americano, a Mesquita Brasil, que começou a ser erguida em 1929. Outras mesquitas importantes são as de Curitiba, Santos, Rio de Janeiro, Jundiaí, Cuiabá, Campo Grande, Recife, Guarulhos, São Bernardo do Campo, Paranaguá, Barretos, Londrina e Maringá. É quase impossível precisarmos acerca dos muçulmanos brasileiros. Há convertidos emigrantes, profissionais liberais, empresários, trabalhadores em diversas áreas de produção; todos dando sua contribuição para o futuro do Brasil. Essa comunidade complexa está unificada por uma rede nacional de mesquitas. Os muçulmanos chegaram muito cedo ao Brasil. Juntamente com Cabral chegaram Chuhabiddin Bin Májid e o navegador Mussa Bin Sáte. Ouando do tráfico de escravos, no século dezoito, muitos milhares de muçulmanos africanos (hausas, fulanis, yorubás) trabalharam como escravos nas plantações. Essas primeiras comunidades, privadas de suas heranças e famílias, inevitavelmente perdiam sua identidade islâmica à em medida que o tempo passava. Hoje, alguns muçulmanos afro-brasileiros desempenham um importante papel na comunidade islâmica brasileira. O início do século vinte, porém, presenciou o começo de um influxo d árabes muçulmanos, a maioria dos quais se instalou nos maiores centros industriais. A primeira Mesquita foi inaugurada em 1956 em São Paulo; outras foram sendo construídas, e hoje há mesquitas em todas as grandes capitais dos estados e em algumas cidades do interior.
Muçulmanos nas senzalas Num contexto histórico e espiritual as senzalas tornaram-se, por força da situação, as primeiras mesquitas em território brasileiro. A devoção total dos muçulmanos, proibida pelos donos de escravos, acompanhou, com o passar do tempo, a transformação da cultura islâmica em seitas. Através da Umbanda e do Candomblé, muitos escravos passaram a exercer a fé do Islã. A partir de meados dos séculos 18 e 19, escravos negros e muçulmanos, oriundos do norte da África, chegam ao Brasil. Para muitos destes, os portugueses usavam um tipo especial de captura pacífica. Utilizavam a religião para convencer os africanos a embarcar. Diziam que iriam até Meca e aprisionavam os fiéis que neles acreditavam. No norte da África, até hoje existe um porto marítimo que é chamado de Porto da Peregrinação, em alusão a estes acontecimentos. Em 1833 eles se insurgiram, em Salvador, Bahia, contra a escravidão - no Islamismo um homem nunca pode ser escravo de outro -, em episódio que ficou conhecido como Revolta dos Malês. Depois disso, segundo alguns historiadores, escravos muçulmanos nunca mais foram embarcados para o País. Essas primeiras comunidades, privadas de sua herança e família, inevitavelmente perdiam sua identidade islâmica à medida que o tempo passava. Porém, hoje muitos muçulmanos afro-brasileiros resgataram a religião e desempenham um importante papel na Comunidade muçulmana brasileira.
Muçulmanos descobrem a América A participação dos muçulmanos no Brasil não se remota apenas à organização das primeiras comunidades deste século 19 ou com a escravidão. Ela é muito mais antiga. Todos sabem que a história brasileira começa na Península Ibérica, há mais de 500 anos, durante o expansionismo marítimo dos portugueses, movido pelo descobrimento de novas terras, uma das quais o Brasil. Os árabes muçulmanos exerciam um papel importante com a contribuição de sistemas de navegação mais eficazes para as embarcações ibéricas. A Escola de Sagres, em Portugal, uma das mais importantes escolas de navegação daquele tempo, possuía vários professores árabes muçulmanos que inovaram e alteraram os preceitos da navegação mundial. Juntamente com Cristóvão Colombo, chegaram Luís de Torres - muçulmano obrigado a converter-se ao cristianismo devido à Santa Inquisição - e o navegador Mussa Ben Sate. Eles foram os "primeiros" muçulmanos a pisarem em território americano. A função de Luís de Torres, que falava árabe fluentemente, era bastante singular: auxiliar os portugueses na comunicação com os índios, já que na "Índia" grande parte da população era muçulmana e se familiarizava com o idioma árabe. Saber se os colonizadores tiveram muito êxito nesta tentativa é desnecessário. Há ainda historiadores e cronistas árabes que dizem que foi a população muçulmana amante do mar - oriundos da região africana -, quem primeiro descobriu o caminho das Américas, especialmente o Brasil, aventurando-se pelos oceanos. Os primeiros europeus que ali chegaram (às Américas), com Cristóvão Colombo e seus sucessores, encontraram já radicadas populações negras. Apesar da falta de documentos históricos, tudo indica que foram os muçulmanos da África Negra e os Berberes que participaram da colonização da América, como sugere o próprio nome Brasil. Biralah é o nome de uma bem conhecida tribo Berbere, e o nome coletivo desta tribo é exatamente Brasil. Além disso, a ilha de Palma, no Atlântico, chamava-se antes Bene Hoare, tal e qual o nome de outra tribo Berbere, os Beni Huwara, o que reforça ainda mais essa tese.
Redescobrindo o Brasil A Comunidade vem se organizando cada vez mais, atualmente ela engloba vários colégios, hospitais, clubes, entidades beneficentes, sociais e culturais. Ainda dispõe de pequenos meios de comunicação: programas de rádio, jornais e revistas bilíngües (árabe-português); assim como diversos livros e materiais didáticos com o intuito de divulgar a religião e os trabalhos desta sociedade. Não é possível generalizar os muçulmanos no Brasil. Eles atuam em diversas áreas: profissionais liberais, empresários, juizes, promotores, servidores públicos em geral e até mesmo na política.